domingo, 4 de março de 2012

A Evolução da Forma - Jalal ud-Din Rumi

Toda forma que vês tem seu arquétipo no mundo sem-lugar.
Se a forma esvanece, não importa, permanece o original.

As belas figuras que viste, as sábias palavras que escutaste, não te entristeças se pereceram.

Enquanto a fonte é abundante, o rio dá água sem cessar.
Por que te lamentas se nenhum dos dois se detém?

A alma é a fonte, e as coisas criadas, os rios.
Enquanto a fonte jorra, correm os rios.
Tira da cabeça todo o pesar e sorve aos borbotões a água deste rio.
Que a água não seca, ela não tem fim.

Desde que chegaste ao mundo do ser, uma escada foi posta diante de ti, para que escapasses.
Primeiro, foste mineral; depois, te tornaste planta, e mais tarde, animal.
Como pode ser isto segredo para ti?

Finalmente foste feito homem, com conhecimento, razão e fé.
Contempla teu corpo; um punhado de pó vê quão perfeito se tornou!

Quando tiveres cumprido tua jornada, decerto hás de regressar como anjo; depois disso, terás terminado de vez com a terra, e tua estação há de ser o céu.

Passa de novo pela vida angelical, entra naquele oceano, e que tua gota se torne o mar, cem vezes maior que o Mar de Oman.

Abandona este filho que chamas corpo e diz sempre Um; com toda a alma.
Se teu corpo envelhece, que importa?
Ainda é fresca tua alma.

Jalal ud-Din Rumi (Poeta e místico sufi do século XIII - Poemas Místicos, Ed. Attar, 1996)

Poema (Dervixe) e música (Lótus) de Gunendra Sankari em homenagem a Jalal ud-Din Rumi, um dos fundadores da Ordem dos Dervixes na antiga Pérsia. Ilustração autorizada de Lisa Dietrich (Rumi ).

Dentro deste mundo há um outro mundo impermeável às palavras.
Nele, nem a vida teme a morte, nem a primavera dá lugar ao outono.

Histórias e lendas surgem dos tetos e paredes, até mesmo as rochas e árvores exalam poesia.
Aqui, a coruja transforma-se em pavão; o lobo, em belo pastor.

Para mudar a paisagem, basta mudar o que sentes;
E se queres passear por esses lugares, basta expressar o desejo.

Fixa o olhar no deserto de espinhos.
- Já é agora um jardim florido!
Vês aquele bloco de pedra no chão?
- Já se move e dele surge a mina de rubis!

Lava tuas mãos e teu rosto nas águas deste lugar, que aqui te preparam um fausto banquete.
Aqui, todo ser gera um anjo; e quando me vêem subindo aos céus, os cadáveres retornam à vida.

Decerto viste as árvores crescendo da terra, mas quem há de ter visto o nascimento do Paraíso?
Viste também as águas dos mares e rios, mas quem há de ter visto nascer de uma única gota d'água uma centúria de guerreiros?

Quem haveria de imaginar essa morada, esse céu, esse jardim do paraíso?
Tu, que lês este poema, traduze-o. Diz a todos o que aprendeste sobre este lugar.

Voz: Letícia Sabatella - Imagens: Cedar Lee - Música: Marcus Viana

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