terça-feira, 5 de julho de 2011

Ercília Ferraz de Arruda Pollice

reside em Campinas, é formada em Letras pela USC – Bauru, bacharel em Literatura Portuguesa. Escritora, conta com 10 livros publicados, entre eles livros infantis e juvenis, além de inúmeras crônicas e poemas. Integra a Academia Campineira de Letras e Artes e Academia Bauruense de Letras. Foi indicada para o Prêmio Jabuti pela autoria do livro infanto–juvenil "Só, de vez em quando" da Editora FTD. Ercília também é artista plástica catalogada no Cat. Júlio Lousada. Aquarelista, já realizou dezenas de exposições individuais e coletivas em diversos salões e galerias, inclusive em Paris. Alegre, de bem com a vida, adora relacionar-se. Sua preferência é escrever sobre relacionamentos em todas as áreas e níveis. Também tem uma queda por comentar fatos políticos e suas implicações, sempre com bom humor e alguma ironia. Poeta, fala só do amor. Quando escreve faz pinturas de palavras, sua arma maior. Quando pinta faz poemas de cores. Tem 3 filhos, escreveu vários livros e já plantou centenas de árvores. Agora, é desfrutar os bons momentos que a vida sempre oferece àqueles que tem olhos e ouvidos para ouvir e entender estrelas.

erciliapollice@gmail.com

Palavras, apenas palavras, nada mais que palavras!
As palavras fazem parte da minha existência. São tantas as palavras que habitam minha cabeça, que sinto necessidade, vezes sem conta, de pô-las pra fora. E, só em dizê-las não me faz contente. Não me satisfaço!

Preciso, então, me ausentar de mim mesma, e numa folha em branco ir esvaziando aos borbotões todas as palavras que me enchem a alma e moram dentro em mim. Soltando-as assim quase sem pensar, num turbilhão de pensamentos que as vão unindo em cores, formas, sons, dando-lhes uma aliteração tão forte, uma musicalidade própria que, pra que não me fujam, mesmo sem uma rima sequer, as enfeixo. amarrando-as umas às outras, as aprisiono em poemas.São minhas as palavras, são meus os poemas!

Poemas estes, nem sei ao certo, se servirão para agradar alguém, mas que a mim, fazem um enorme bem..

Gosto das palavras. Sempre gostei das palavras. Palavras são como pedaços da gente, desvendam nosso íntimo, revelam nossos sentimentos mais profundos, e denotam nossa alegria ou tristeza. Deixam à tona nossos desafetos.

Um bom observador, saberá ao lê-las, decifrar o estado de nossa alma, juntando pedacinhos unidos em frases mesmo que esparsas, irá com elas formar orações e lá estará à sua frente o verbo que nos habita, a nos revelar inteiramente. Minha fragilidade sempre esteve em minhas palavras. Falo sempre do que em mim faz morada. Como diz o livro dos livros, a boca fala do que o coração está cheio.

Desde menina já era assim decifrada pelas palavras que dizia, ou, até pelas que deixava de dizer. E minha mãe sabiamente a me repetir:- “Minha filha, as palavras são sua alma, sua palma”.

Engraçado como pessoas que me conhecem de perto, ao trocarem comigo apenas duas ou três palavras pelo telefone, sabem de antemão dizer se estou alegre, triste, feliz, preocupada, ou, seja que sentimento for, que eu, tolamente, pense estar guardando só pra mim.

Assim fazem as palavras conosco; ora doces, ora amargas, ora nos agridem, ora nos amaciam, alegram nossa alma e fazem nos bater forte o coração. Longas demais, algumas vezes, não conseguem nos dizer nada. Não nos atingem!

Curtas em outras, conseguem nos cortar a alma em pedacinhos. Palavras são palavras, sejam duras, macias, secas, suaves... Pouco importa.

Serão sempre palavras e depois de ditas, não as conseguimos recolher jamais. Por isso toda palavra é bendita, pois até as malditas, algumas vezes, necessitamos dizê-las ou ouvi-las para acordar, deixando pra lá as coisas que pra trás ficam. Assim, saindo de nós mesmos, começarmos ir à cata de palavras novas, esquecidamente guardadas, ou, quem sabe ainda sem chances ou ousadia de usá-las em nosso dia a dia.

E, desta forma, sem que nos apercebamos, sem expectativa alguma, vamos nos acostumando a elas, e as enfeixando em sutis sonoridades diferentes, e, de repente, quando menos esperamos, lá está o recomeço de um novo poema com uma musicalidade até então por nós desconhecida. Pegamos nova fita a enlaçar um novo feixe.

Sentimo-nos em ocasiões como essa, uma Penépole pós-moderna, tecendo um bordado de novas e sutis teias. Teias de palavras, riscando o papel qual esmeril riscando dissabores, derrubando a duração inútil dos rancores e o estéril arrependimento. Palavras novas, loucas ou não, trazem eternas possibilidades.

Um brinde ao que está sempre em nossas mãos:

- A vida inédita pela frente, e a virgindade dos dias que virão!

Apenas palavras! Nada mais que palavras! E precisa?

AFINIDADES

Afinidade é um dos poucos sentimentos que resistem ao tempo e ao depois. Não importam as impossibilidades, os adiamentos, a distância, a ausência. Qualquer reencontro retoma a relação.
E num passe de mágica o diálogo, a conversa, e o afeto, retomam tudo no exato ponto em que foi interrompido. Sinto como se a afinidade fosse a vitória do subjetivo sobre o objetivo, das coisas permanentes sobre as passageiras, do essencial sobre o superficial.

Afinidade não acontece a toda hora. É coisa rara, mas quando acontece, não necessita de códigos verbais para se fazer presente. É como se ela já existisse antes e se apresentasse durante, e permanecesse depois, mesmo que as pessoas deixem de estar juntas. Coisas que você jamais revelaria a um não afim, você facilmente desnuda diante de alguém por quem sente grande afinidade.

Afinidade é chorar pelas mesmas coisas, sentir com, emocionar-se com, impressionar-se com os mesmos acontecimentos, mesmo que de longe. Ela independe do amor, pois quanta gente ama e sente contra a pessoa amada, outros sentem para a pessoa amada, se anulam.

Ter afinidade com alguém é sentir com chegar junto; nem antes nem depois. Ali taco a taco.
Quando você sente com alguém, você o aceita sem recriminar, avalia sem se contaminar. Aceita para poder questionar, e não questiona por não aceitar.

Ter afinidade é compreender sem precisar falar, é sentir o suspiro de saudade num simples olhar,
é saber com exatidão a dimensão de cada gesto e de cada palavra, mesmo qua as palavras por si só digam pouco.

A afinidade pode ser detectada em simples palavras, num jeito de ser, numa resposta, num sorriso que se torna cúmplice, a km de distância.

Afinidade não se mede pelo tempo nem pela distância. Afinidade se mede pelo bem estar, pelo sentimento bom que nos ocupa o coração quando nos relacionamos com nossos afins. Na maneira de ser, de falar, de sorrir, de escrever. É um verdadeiro mistério da alma. Não se explica, não tem regras. Apenas acontece. E... quando acontece, coisa boa!

Afinidade é adivinhação de essências desconhecidas até pelas pessoas que as tem. É uma sensação que veio de nossos ancestrais através do inconsciente coletivo e passaremos aos nossos descendentes pelos nossos gens.

A verdadeira afinidade nos traz o amigo ausente para perto de nós, mesmo que ele tenha se mantido ausente por longa data. Daí nos percebemos a conversar no silêncio tanto das possibilidades como das impossibilidades vividas.

A vida pode ter transformado a pessoa, depois de chuvas, vendavais, mansas marés .
A semeadura pode ter sido difícil, mas a colheita continua farta, e ele nos delicia como se nada tivesse acontecido e o tempo nem tivesse passado retomamos a relação no ponto interrompido e tempo para nós nunca existiu.

Quem nos dera poder conviver somente com nossos afins. Independente do conhecer, em texto lido,
algumas palavras trocadas pela net num "chat, sentimos as mesmas sensações. É gostoso saber que ela perdurará por sintonias futuras, sempre com a sensação de quem a sente, de que encontrou alguém que teve perdas semelhantes e iguais esperanças. E especial porque é eterna! É singular porque tem razões que foge à razão. Não tem explicação porque é chão que só se pisa com o coração. Afinidade é o mais brilhante dos sentimentos porque transcende o tempo e a razão.

Ercília Ferraz de Arruda Pollice
(Escritora infantil, poeta, artista plástica, assessora de arte de "Ju Machado Escritório de Arte)

Este poema ficou amplamente conhecido na Internet como sendo de Cecilia Meireles. Nossa colaboradora, Monica, foi informada do engano, mas disse que poderíamos usar sua interpretação para demonstrar quão complicado é confiar nos meios eletrônicos de que dispomos.

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