segunda-feira, 14 de maio de 2012

Ela só Queria Casar - Marcelo Cezar (Marco Aurélio)

Primeiro capitulo de degustação: Gláucia contemplava o enxoval do casamento com olhos brilhantes de emoção. Finalmente iria realizar o antigo sonho: casar-se. Estava tão feliz! Não tinha medo de dizer o quanto desejava se casar e ter um lar. Ainda estava vivo em sua memória o dia em que tomara coragem para pressionar o namorado e acelerar os passos para chegarem ao altar. Namorava Luciano havia sete anos. Eles tinham intimidade, viviam praticamente como um casal, mas moravam em casas separadas. Essa história de cada um na sua casa a incomodava sobremaneira. Gláucia era uma mulher talhada nos costumes do século vinte e um. Estudara e concluíra a faculdade, tinha um bom emprego, ganhava bom salário, tinha carro próprio. Era independente, mas desde garota sonhava com o casamento e tudo que envolvia o ritual: vestido, damas de honra, igreja, madrinhas e padrinhos, festa, lua de mel. Era adepta do matrimônio e acreditava que toda mulher, mesmo independente e moderna, tinha que ter um marido. “Mulher que chegou perto ou passou dos trinta anos e não casou... hum, aí tem algo errado”, ela dizia sempre para si e para as colegas. Gláucia dava muito valor à sociedade e aos comentários das pessoas. Namorava Luciano porque na cabeça dela toda mulher sem namorado “tem problema”. O tempo estava passando e ela começava a acreditar que Luciano não quisesse levá-la ao altar, por isso, meses antes, dera o ultimato: — Ou nos casamos agora ou vamos romper. Estou cansada dessa enrolação. — Temos praticamente uma vida de casados — tornava Luciano, paciente. — Para que casar agora? Ao menos não a importuno nos dias de futebol. — Luciano, a gente precisa ter o nosso ninho, as nossas coisas juntos, pensar em constituir família... — Quero muito um filho, você bem sabe. Na verdade, quero ter um monte de filhos. — Também não exagera! — Como não? Quero uns três, quatro filhos. — Dois está de bom tamanho — ela desconversou. — Então, vamos marcar a data. — Agora não é o momento. — Como não? Eu só quero casar. — Sei, querida. Quero guardar um pouco mais de dinheiro... Gláucia levantou o sobrolho: — Guardar dinheiro? Eu escutei bem? — Eu fiz algumas aplicações com prazo estendido e, se mexer nelas neste momento, vou perder dinheiro. — Você é podre de rico! Como pode me dizer que está guardando dinheiro? — Eu não sou podre de rico. Meu pai é que é. Ela bufou: — Dá no mesmo, Luciano. O que é do seu pai é seu. — Não penso assim. Trabalho com ele, ganho um bom salário, tenho participação nos lucros, mas não sou dono da construtora. Sou empregado. — Aposto que Lucas não pensa assim. Luciano franziu o cenho: — O que Lucas tem a ver com isso? — Seu irmão é figura constante nas revistas de celebridades. Tem uma coleção de carros. — Lucas gasta o que não deveria. Mas eu sou diferente. Tenho metas, planos, sou organizado e sinto-me feliz por poder juntar o meu próprio dinheiro. Gláucia achou por bem parar por ali. Luciano era completamente diferente do irmão e tinha pontos de vista difíceis de serem mudados. Por mais que tentasse persuadi-lo a usar o dinheiro do pai, ele ficava arredio e protelava o casamento. “Preciso fazer alguma coisa”, pensou. Luciano continuou: — Quem sabe, ano que vem a gente começa a pensar melhor no assunto? Papai vai lançar um edifício magnífico no Jardim Europa, no estilo francês, com cinco andares apenas. Penso em ficar com a cobertura. — E quanto tempo vai levar para levantar esse chalé francês? — ela desdenhou. Luciano pousou o dedo no queixo e pensou. Em seguida respondeu: — Uns dois anos, dois anos e meio no máximo. Gláucia engoliu a raiva. Trincou os dentes e suspirou para não dar um grito. “Dois anos e meio? Vamos nos casar com quase dez anos de namoro? Esse cara pensa o quê? Que eu sou menina do século dezoito? Nem a pau vou aceitar uma coisa dessas!” Ela pensou tudo isso e respondeu: — Eu espero, amor. — Por isso gosto de você. É tão compreensiva! Vem cá e me dê um beijo... Gláucia fechou os olhos e, quando os lábios se encostaram, ela teve vontade de arrancar a língua de Luciano. “Assim não pode, assim não vou aguentar. Tantos anos grudada nesse homem e ele fica me enrolando? Eu quero ser dondoca, ter cartões de crédito sem limites de gasto. Cansei de ser executiva, de trabalhar, de pegar trânsito. Meu objetivo agora é ser esposa de homem rico. E Luciano é esse homem!” Certo dia, assistindo a um capítulo da novela das oito, Gláucia viu ali a maneira de forçar Luciano a desposá-la. Fingiu estar grávida, tal qual a personagem do folhetim, com direito a atestado e tudo o mais. E Luciano, moço puro de coração, acreditou. Marcaram a data para dali a três meses. — Depois do casamento a barriga não vai crescer. O que pensa fazer? — indagou a amiga Magali, que não compactuava com a armação. — Ora, eu finjo cair de uma escada, tropeço, sei lá. Vou pagar por um atestado falso. Tem um monte de médico que aceita uma boa grana e assina um atestado fajuto sem pestanejar. — Isso não me cheira bem, Gláucia. Não gosto de mentiras. Vai começar o casamento em cima de conversa fiada, de armação? Gláucia abriu e fechou os olhos, aturdida. — Vem cá, Magali. Você é minha amiga ou o quê? — Por ser sua amiga falo o que sinto. Simplesmente não acho essa atitude digna. Nada honesta. — Falta de honestidade ou não, funcionou. Luciano vai se casar comigo e vou realizar meu sonho. Sabe que desde pequena quero me casar. — E como! — exclamou Magali. — Quantos casamentos de mentirinha a gente protagonizou na nossa infância? As duas riram. Gláucia disse: — Pois é. Quantas vezes assisti à reprise do casamento da princesa Diana com o príncipe Charles? Magali levou a mão à testa. — Santo Deus! Você me aporrinhava tanto para assistirmos juntas ao vídeo! — Pois é. Sou uma mulher moderna, mas presa a valores antigos, sou moça de tradição. Quero vestido branco, véu, grinalda, buquê, dama de honra... Quero entrar na igreja e atravessar a nave, acenando para os convidados. Não adianta, eu sonho com isso desde que nasci. E também tem outra coisa. — O que é? — Cansei de ralar e dar duro todos os dias. Não suporto mais a vida de executiva. — Você tem o direito de fazer o que quiser e viver da maneira que quiser. No entanto, enganar seu namorado não pega bem, não é justo. Seja sincera desde já, caso contrário, poderá provocar a ira de Luciano. — Luciano não morde. Magali era uma mulher bastante prudente. Era ponderada e Gláucia escutava seus conselhos. Mas escutar não queria dizer que seguiria à risca o que a amiga lhe sugeria. — Luciano não morde hoje, mas pode morder amanhã. — Que nada, Magali! Luciano é um cachorrinho que venho adestrando há sete anos. Sete anos! — ela levantou as mãos e fez os números com os dedos. — E sabe qual é a novidade? — O que é? — Ele quer que eu espere o magnífico apartamento da construtora ficar pronto daqui a dois anos e meio. O que ele pensa que eu sou? Tonta? — Ele está programando tudo direitinho. Se diz que vão morar no apartamento que a construtora do pai dele vai erguer, é porque nutre bons sentimentos por você. Caso contrário, poderia ter lhe dado uma resposta vaga. Pense bem, amiga. Mentir nunca dá bons frutos. — Bobagem. Você nunca mentiu na vida? — Não gosto de mentiras — revidou Magali. — Mas nunca mentiu? Seja honesta comigo que sou sua melhor amiga. Todo mundo conta uma mentirinha de vez em quando. Já não perdeu a hora para chegar ao trabalho e botou a culpa no trânsito caótico? Nunca recusou um compromisso pretextando uma dor de cabeça, um mal-estar, um trabalho de “última hora”? — Não estou me referindo a isso. Não vejo como mentira, mas como situações que crio para não me prejudicar. Falo em mentira no sentido de prejudicar os outros. — E estou prejudicando quem nessa história? Luciano está comigo há anos. Só estou agilizando o nosso casamento. Ele nem vai notar. Depois eu engravidarei de verdade e pronto. Fica tudo certo. — Luciano é honesto — tornou Magali. — E rico, muito rico. — Você é independente, não precisa do dinheiro dele. Seu pai pode ajudá-la. Gláucia gargalhou. — Faz-me rir! Meu pai tem um escritoriozinho de contabilidade no centro da cidade. Acha que ele vai me dar mesada? Como? Esqueceu que ele tem que sustentar aquelas duas sanguessugas? — Sua irmã é batalhadora, esforçada. Estuda com afinco e logo vai trabalhar com seu pai. — Você não entendeu. Preste atenção: Débora vai se encostar no meu pai. Aliás, ela é naturalmente um encosto. Magali respirou e sacudiu a cabeça. Conhecia a amiga o suficiente para saber que a conversa não ia dar em nada. Gláucia prosseguiu: — O que meu pai pode me dar não me basta. Preciso de muito, entende? — Não entendo você, Gláucia. Tem um padrão de vida muito bom, troca de carro todo ano, não repete roupa... — Isso é muito classe média. Quero viajar três vezes por ano para o exterior, e na primeira classe, óbvio. Acha que vou ficar apertada na classe econômica como sardinha em lata e dividir banheiro com duzentos desconhecidos? Não! Eu quero ter roupas caras, muitas joias, iate, jatinho... Luciano é podre de rico e pode me dar tudo isso. — O pai dele é que é podre de rico. — Parece Luciano falando. Ouvi a mesma frase da boca dele. Vocês são tão parecidos. Pensam da mesma forma. Magali ruborizou e baixou os olhos. Meio sem jeito, perguntou: — Você o ama? Gláucia desconversou e continuou a falar como se Magali não lhe tivesse feito aquela pergunta: — Cá entre nós, depois de sete anos, imagine se Luciano resolver terminar comigo? Com que cara vou encarar o meu pai, os meus amigos e os colegas de trabalho? — Pense em você e não nos outros... A conversa terminou logo em seguida. Quando Gláucia botava uma ideia na cabeça, não havia Cristo que tirasse. Ela era marrenta e queria que tudo na vida acontecesse de acordo com a sua vontade. Quando o assunto não a interessava, ela simplesmente ignorava o interlocutor, e a conversa se encerrava ali mesmo. A mentira deu certo. Luciano, boa índole e tomado de susto com o atestado positivo que Gláucia sacudia dramaticamente entre as mãos, decidiu pedi-la oficialmente em casamento, embora esse tipo de formalidade não estivesse mais na moda nos idos de 2006. Na pressa, o rapaz optou por alugar um apartamento. Escolheu um bem espaçoso, de três quartos e sala de estar incorporada a uma grande varanda gourmet. Era tanta a quantidade de presentes que não paravam de chegar, que o apartamento, mesmo grande, dava a impressão de não comportar tantos pacotes. O Próximo Passo A Última Chance Em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, uma família abalada pela morte do patriarca passa por transformações espirituais reveladoras. Na inevitável fragmentação familiar que se sucede, Lilian, a personagem central, é abandonada e passa por inúmeras humilhações. Deprimida e solitária, conhece a amizade eterna de Marilda e Valentina, uma rica dama da sociedade paulistana e amante e incentivadora das artes. Em vidas passadas, Valentina foi o esteio de Lilian e agora se sente impelida a ajudá-la a superar os desafios impostos pela vida. A trama ditada pelo espírito Marco Aurélio para o médium Marcelo Cezar mostra que os laços construídos pelo amor são eternos e que não há vazio que a ternura não preencha.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse livro promete ser excelente

Quem leva o Mundial de futebol 2014!

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