quarta-feira, 27 de abril de 2011

Monteiro Lobato

O escritor Monteiro Lobato é um símbolo da literatura infantil no país, embora a sua literatura não se restrinja, apenas, ao gênero infantil, pois escreveu muitos outros livros, crônicas e outros gêneros.
Lobato nunca fez literatura por literatura. Poucos escritores botaram tanta intenção, tanto sofrimento, tanta preocupação, tão sério amor, nos seus livros e nos seus artigos, como o fez ele, em sua literatura combativa e tantas vezes combatida.Orígenes Lessa

José Bento Monteiro Lobato, nasceu em Taubaté (Estado de São Paulo) a 18 de Abril de 1882. Ali se formou em Direito, tendo participado, enquanto estudante, num grupo de formação literária parnasiana, mas de vivos interesses nacionalistas, chamado “O Minarete”. Foi Promotor no vale do Paraíba e tentou a agricultura, mas após a publicação, em 1918, do seu primeiro livro de contos “Urupês”, passou a viver como escritor e editor. Paladino do progresso brasileiro, vinculou o seu nome a grandes campanhas de redenção nacional e pelas liberdades democráticas. Embora de formação pré-modernista e com certas preocupações formais ainda naturalistas e parnasianas, é totalmente moderno pelas suas aspirações progressistas e pela sua incondicional adesão às possibilidades da ciência. Coube-lhe o mérito de ser o criador, no Brasil, de uma verdadeira literatura infanto-juvenil.

Sua Obra Literária:
Coleção Sítio do Picapau Amarelo
1921 - O Saci; 1922 - Fábulas; 1927 - As aventuras de Hans Staden; 1930 - Peter Pan; 1931 - Reinações de Narizinho; 1932 - Viagem ao céu; 1933 - Caçadas de Pedrinho; 1933 - História do mundo para as crianças; 1934 - Emília no país da gramática; 1935 - Aritmética da Emília; 1935 - Geografia de Dona Benta; 1935 - História das invenções; 1936 - Dom Quixote das crianças; 1936 - Memórias da Emília; 1937 - Serões de Dona Benta; 1937 - O poço do Visconde; 1937 - Histórias de Tia Nastácia; 1939 - O Picapau Amarelo; 1939 - O minotauro; 1941 - A reforma da natureza; 1942 - A chave do tamanho; 1944 - Os doze trabalhos de Hércules (dois volumes); 1947 - Histórias diversas.

Outros livros infantis:
Alguns foram incluídos, posteriormente, nos livros da série O Sítio do Picapau Amarelo. Os primeiros foram compilados no volume Reinações de Narizinho, de 1931, em catálogo apenas como tal até os dias actuais.
1920 - A menina do narizinho arrebitado; 1921 - Fábulas de Narizinho; 1921 - Narizinho arrebitado (incluído em Reinações de Narizinho); 1922 - O marquês de Rabicó (incluído em Reinações de Narizinho); 1924 - A caçada da onça; 1924 - Jeca Tatuzinho; 1924 - O noivado de Narizinho (incluído em Reinações de Narizinho, com o nome de O casamento de Narizinho); 1928 - Aventuras do príncipe (incluído em Reinações de Narizinho); 1928 - O Gato Félix (incluído em Reinações de Narizinho); 1928 - A cara de coruja (incluído em Reinações de Narizinho); 1929 - O irmão de Pinóquio (incluído em Reinações de Narizinho); 1929 - O circo de escavalinho (incluído em "Reinações de Narizinho, com o nome O circo de cavalinhos); 1930 - A pena de papagaio (incluído em Reinações de Narizinho); 1931 - O pó de pirlimpimpim (incluído em Reinações de Narizinho); 1933 - Novas reinações de Narizinho
1938 - O museu da Emília (peça de teatro, incluída no livro Histórias diversas).

Livros para adultos:
O Saci Pererê: resultado de um inquérito (1918); Urupês (1918); Problema vital (1918); Cidades mortas (1919); Ideias de Jeca Tatu (1919); Negrinha (1920); A onda verde (1921); O macaco que se fez homem (1923); Mundo da lua (1923); Contos escolhidos (1923); O garimpeiro do Rio das Garças (1924); O choque (1926); Mr. Slang e o Brasil (1927); Ferro (1931); América (1932); Na antevéspera (1933); Contos leves (1935); O escândalo do petróleo (1936); Contos pesados (1940); O espanto das gentes (1941); Urupês, outros contos e coisas (1943); A barca de Gleyre (1944); Zé Brasil (1947); Prefácios e entrevistas (1947) ;Literatura do minarete (1948); Conferências, artigos e crónicas (1948); Cartas escolhidas (1948); Críticas e outras notas (1948); Cartas de amor (1948).

Monteiro Lobato - Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

José Bento Renato Monteiro Lobato, nasceu em Taubaté a18 de abril de 1882 e morreu em São Paulo a 4 de Julho de 1948. Foi um dos mais influentes escritores brasileiros do século XX. É popularmente conhecido pelo conjunto educativo, bem como divertido, de sua obra de livros infantis, o que seria aproximadamente metade da sua produção literária. A outra metade, consistindo de inúmeros e deliciosos contos (geralmente sobre temas brasileiros), artigos, críticas, prefácios, um livro sobre a importância do petróleo e do ferro e um único romance, O Presidente Negro, não alcançou a mesma popularidade, mas ainda assim representa um divisor de águas na literatura brasileira.

Os primeiros anos
Criado em fazenda, Monteiro Lobato foi alfabetizado pela mãe Olímpia Augusta Monteiro Lobato e depois por um professor particular. Aos sete anos, entrou num colégio. Nessa idade descobrira os livros de seu avô materno, o Visconde de Tremembé, dono de uma biblioteca imensa no interior da casa. Leu tudo o que havia para crianças em língua portuguesa. Nos primeiros anos de estudante já escrevia pequenos contos para os jornaizinhos das escolas que frequentou.
Aos onze anos, em 1893, foi transferido para o Colégio São João Evangelista. Ao receber como herança antecipada uma bengala do pai, que trazia gravada no castão as iniciais J.B.M.L., mudou seu nome de José Renato para José Bento, a fim de utilizá-la. No ano seguinte, os pais o presentearam com uma calça comprida, que usou bastante envergonhado. Em Dezembro de 1896 foi para São Paulo e, em Janeiro, prestou exames das matérias estudadas na cidade natal, mas foi reprovado no curso preparatório e retornou a Taubaté. Quando retornou ao Colégio Paulista, fez as suas primeiras incursões literárias como colaborador dos jornaizinhos Pátria, H2S e O Guarany, sob o pseudónimo de Josben e Nhô Dito. Passou a coleccionar avidamente textos e recortes que o interessavam, e lia bastante. Em Dezembro prestou novamente os exames para o curso preparatório e foi aprovado. Escreveu minuciosas cartas à família, descrevendo a cidade de São Paulo. Colaborou com O Patriota e A Pátria. Então, se mudou de vez para São Paulo, e tornou-se estudante interno do Instituto Ciências e Letras. No ano seguinte, a 13 de Junho de 1898, perdeu o pai, José Bento Marcondes Lobato, vítima de congestão pulmonar. Decidiu, pela primeira vez, participar das sessões do Grémio Literário Álvaro de Azevedo do Instituto Ciências e Letras. Sua mãe, vítima de uma depressão profunda, veio a falecer no dia 22 de Junho de 1899. Tendo forte talento para o desenho, pois desde menino retrata a Fazenda Buquira, tornou-se desenhista e caricaturista nessa época. Em busca de aproveitar as suas duas maiores paixões, decidiu ir para São Paulo após completar 17 anos. Seu sonho era a Faculdade de Belas-Artes mas, por imposição do avô, que o tinha como um sucessor na administração de seus negócios, acabou ingressando na Faculdade do Largo São Francisco para cursar Direito. Mesmo assim seguiu colaborando em diversas publicações estudantis e fundou com os colegas de turma a Arcádia Académica, em cuja sessão inaugural fez um discurso intitulado: Ontem e Hoje. Lobato, a essas alturas, já era elogiado por todos como um comentarista original e dono de um senso fino e subtil, de um "espírito à francesa" e de um "humor inglês" imbatível, que carregou pela vida afora. Dois anos depois, foi eleito presidente da Arcádia Académica, e colaborou com o jornal Onze de Agosto, onde escreveu artigos sobre teatro. De tais estudos surgiu, em 1903, o grupo O Cenáculo, fundado junto com Ricardo Gonçalves, Cândido Negreiros, Godofredo Rangel, Raul de Freitas, Tito Lívio Brasil, Lino Moreira e José António Nogueira.
Era anticonvencional por excelência, dizendo sempre o que pensava, agradasse ou não. Defendia a sua verdade com unhas e dentes, contra tudo e todos, quaisquer que fossem as consequências. Venceu um concurso de contos e o texto Gens Ennuyeux foi publicado no jornal Onze de Agosto.

O advogado
Em 1904 diplomou-se bacharel em Direito e regressou a Taubaté. No ano seguinte fez planos de fundar uma fábrica de geleias, em sociedade com um amigo, mas passou a ocupar interinamente a promotoria de Taubaté e conheceu Maria Pureza da Natividade ("Purezinha"). Em Maio de 1907 foi nomeado promotor público em Areias e casou-se com Purezinha, a 28 de Março de 1908. Exactamente um ano depois nasceu Marta, a primogénita do casal. Insatisfeito com a vida bucólica de Areias, planejou abrir um estabelecimento comercial de secos e molhados. Em 1910 associou-se a um negócio de estradas de ferro e nasceu o seu segundo filho, Edgar. Viveu no interior e nas cidades pequenas da região, escrevendo paralelamente para jornais e revistas, como Tribuna de Santos, Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro e Fon-Fon, para onde também mandava caricaturas e desenhos. Passou a traduzir artigos do Weekly Times para o jornal O Estado de São Paulo, e obras da literatura universal, também enviando artigos para um jornal de Caçapava. Contudo, era visível a sua insatisfação com a vida que levava e com os negócios que não prosperavam. No ano seguinte, aos 29 anos, Lobato recebeu a notícia do falecimento de seu avô, o Visconde de Tremembé, tornando-se então herdeiro da Fazenda de Buquira, para onde se mudou com toda a família. De promotor a fazendeiro, dedicou-se à modernização da lavoura e à criação. Com o lucro dos negócios, abriu um externato em Taubaté, que confiou aos cuidados de seu cunhado. Em 1912 nasceu Guilherme, o seu terceiro filho. Ainda insatisfeito, mas desta vez com a vida na fazenda, planejou explorar comercialmente o Viaduto do Chá, na cidade de São Paulo, em parceria com Ricardo Gonçalves.

A fama
Em 12 de Novembro de 1914, o jornal O Estado de São Paulo publicou o seu artigo Velha Praça. Era véspera de Natal quando o mesmo jornal publicou um conto daquele que mais tarde seria o seu primeiro livro, Urupês. Na vila de Buquira, nessa mesma época, envolveu-se com a política e logo a deixou de lado. Sua quarta e última filha, Rute, nasceu em Fevereiro de 1916, quando iniciava colaboração na recém fundada Revista do Brasil. Era uma publicação nacionalista que agradou em cheio o gosto de Lobato. Somente em 1917 um fato definiria de vez a sua carreira literária: durante o inverno seco daquele ano, cansado de enfrentar as constantes queimadas praticadas pelos caboclos, o fazendeiro escreveu uma "indignação" intitulada Velha Praga, e a enviou para a secção Queixas e Reclamações do jornal O Estado de São Paulo. O jornal, percebendo o valor daquela carta, publicou-a fora da secção que era destinada aos leitores, no que acertou, pois a carta provocou polémica e fez com que Lobato escrevesse outros artigos como, por exemplo, Urupês, dando vida a um de seus mais famosos personagens, o Jeca Tatu. Jeca era um grande preguiçoso, totalmente diferente dos caipiras e índios idealizados pela literatura romântica de então. Seu aparecimento gerou uma enorme polémica em todo o país, pois o personagem era símbolo do atraso e da miséria que representava o campo no Brasil.
A partir daí, os fatos se sucederam: a geada e as dificuldades levaram-no a vender a fazenda e a partir com a família para São Paulo, com o intuito de tornar-se um "escritor-jornalista". Fundou, em Caçapava, a revista Paraíba, e organizou para o jornal O Estado de São Paulo uma imensa e acalentada pesquisa sobre o saci. Em 20 de Dezembro publicou Paranóia ou Mistificação, a famosa crítica desfavorável à exposição de pintura de Anita Malfatti, que culminaria como o estopim para a criação da Semana de Arte Moderna de 1922. Muitos passaram a ver Lobato como reaccionário, inclusive os modernistas, mas hoje, após tantos anos, percebe-se que o que Lobato criticava eram os "istmos" que vinham da Europa: cubismo, futurismo, dadaísmo, surrealismo, que ele achava que eram "colonialismos", "europeizações", assim como ocorrera com os académicos das gerações anteriores. Lobato era a favor de uma arte devidamente brasileira, autóctone, criada aqui. Por isso criticou Malfatti, embora admitisse que ela fosse talentosa. Isso tudo gerou o estranhamento entre ele e os modernistas mas, no fundo, todos eles tinham razão, apenas viam as coisas de ângulos diferentes. Mesmo assim Oswald de Andrade continuou a ser um profundo admirador de Lobato: quando ocorrera a Semana de Arte Moderna, as provas de Urupês ficaram dois dias em cima do sofá da garçonière onde Oswald se encontrava com os amigos.

O editor
Em 1918, Monteiro Lobato comprou a Revista do Brasil e passou a dar espaço para novos talentos, ao lado de pessoas famosas. Tornou-se, dessa forma, um intelectual engajado na causa do nacionalismo, a qual dedicou uma preocupação fundamental, tanto na ficção quanto no ensaio e no panfleto. Crítico de costumes, no qual não faltava a nota do sarcasmo e da caricatura, de sua obra elevou-se largo sopro de humanidade e brasileirismo. Nas mãos de Monteiro Lobato, a Revista do Brasil prosperou e ele pôde montar uma empresa editorial, sempre dando espaço para os novatos e divulgando obras de artistas modernistas. Lobato também foi precursor de algumas ideias muito interessantes no campo editorial. Ele dizia que "livro é sobremesa: tem que ser posto debaixo do nariz do freguês". Com isso em mente, passou a tratar os livros como produtos de consumo, com capas coloridas e atraentes, e uma produção gráfica impecável. Criou também uma política de distribuição, novidade na época: vendedores autónomos e distribuidores espalhados por todo o país. Logo fundou a editora Monteiro Lobato & Cia. com a obra O Problema Vital, um conjunto de artigos sobre a saúde pública, seguido pela tese O Saci Pererê: Resultado de um Inquérito.

Em julho de 1918, dois meses depois da compra, publicou em forma de livro Urupês, com retumbante sucesso e alcançando grande repercussão ao dividir o país sobre a veracidade da figura do caipira, fiel para alguns, exagerada para outros. O livro chamou a atenção de Rui Barbosa que, num discurso em 1919 durante a sua campanha eleitoral, reacendeu a polémica ao citar Jeca Tatu como um "protótipo do camponês brasileiro, abandonado à miséria pelos poderes públicos". A popularidade fez com que Lobato publicasse, nesse mesmo ano, Cidades Mortas e Ideias de Jeca Tatu.

Em 1920, o conto Os Faroleiros serviu de argumento para um filme dirigido pelos cineastas António Leite e Miguel Milani. Meses depois, publicou Negrinha e A Menina do Narizinho Arrebitado, sua primeira obra infantil, e que deu origem a Lúcia, mais conhecida como a Narizinho do Sítio do Picapau Amarelo. O livro foi lançado em Dezembro de 1920 visando aproveitar a época de Natal. A capa e os desenhos eram de Lemmo Lemmi, um famoso ilustrador da época.

Em Janeiro de 1921, os anúncios na imprensa noticiaram a distribuição de exemplares gratuitos de A Menina do Narizinho Arrebitado nas escolas, num total de 500 doações, tornando-se um fato inédito na indústria editorial. O sucesso entre as crianças gerou continuações: Fábulas de Narizinho (1921), O Saci (1921), O Marquês de Rabicó (1922), A Caçada da Onça (1924), O Noivado de Narizinho (1924), Jeca Tatuzinho (1924) e O Garimpeiro do Rio das Garças (1924), entre outros. Tais novidades repercutiram em altas tiragens dos livros que editava, a ponto de dedicar-se à editora em tempo integral, entregando a direcção da Revista do Brasil a Paulo Prado e Sérgio Millet. A demanda pelos livros era tão grande que ele importou mais máquinas dos Estados Unidos e da Europa para aumentar seu parque gráfico. Porém, uma grave seca cortou o fornecimento de energia eléctrica, e a gráfica só podia funcionar dois dias por semana. Por fim, o presidente Artur Bernardes desvalorizou a moeda e suspendeu o redesconto de títulos pelo Banco do Brasil, gerando um enorme rombo financeiro e muitas dívidas ao escritor. Lobato só teve uma escolha: entrou com pedido de falência em Julho de 1925. Mesmo assim não significou o fim de seu projecto editorial. Ele já se preparava para abrir outra empresa, a Companhia Editora Nacional, em sociedade com Octalles Marcondes e, em vista disso, transferiu-se para o Rio de Janeiro. Os "produtos" dessa nova editora abrangiam uma variedade de títulos, inclusive traduções de Hans Staden e Jean de Léry. Além disso, os livros garantiam o "selo de qualidade" de Monteiro Lobato, tendo projectos gráficos muito bons e com enorme sucesso de público. A partir daí, Lobato continuou escrevendo livros infantis de sucesso, especialmente com Narizinho e outros personagens, como Dona Benta, Pedrinho, Tia Nastácia, o boneco de sabugo de milho Visconde de Sabugosa e Emília, a boneca de pano. Além disso, por não gostar muito das traduções dos livros europeus para crianças, e sendo um nacionalista convicto, criou aventuras com personagens bem ligados à cultura brasileira, recuperando inclusive costumes da roça e lendas do folclore. Mas não parou por aí. Monteiro Lobato pegou essa mistura de personagens brasileiros e os enriqueceu, '"misturando-os" a personagens da literatura universal, da mitologia grega, dos quadrinhos e do cinema. Também foi pioneiro na literatura paradidática, ensinando história, geografia e matemática, de forma divertida.

Em Nova York
Em 1926, Lobato concorreu a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, mas acabou derrotado. Era a segunda vez que isso acontecia. Na primeira vez, em 1921, iria concorrer á vaga de Pedro Lessa, mas desistiu antes da eleição, por não querer fazer as visitas de praxe aos académicos para pedir seus votos. Desta vez, estava concorrendo à vaga do renomado jurista João Luís Alves. Na primeira, recebera um voto no terceiro escrutínio, e, na segunda, dois votos no quarto. Em artigo à imprensa, Múcio Leão chegou a afirmar que esse "escritor de talento fora duas vezes repelido". No mesmo ano saíram em folhetim os livros O Presidente Negro (1926) e "How Henry Ford is Regarded in Brazil (1926). Depois, enviou uma carta ao recém empossado Washington Luís, onde defendeu os interesses da indústria editorial. O presidente, reconhecendo nele um representante promissor dos interesses culturais do país, nomeou-o adido comercial nos Estados Unidos, em 1927. Monteiro Lobato mudou-se para Nova York e deixou a Companhia sob a direcção de seu sócio, Octalles Marcondes Ferreira. Entusiasmado com o progresso material que viu nos Estados Unidos, passou a acompanhar todas as inovações tecnológicas estadunidenses e fez de tudo para convencer o governo brasileiro a propiciar a criação de actividades semelhantes no Brasil. Com interesses voltados no que diz respeito às questões de petróleo e ferro, planejou a fundação da Tupy Publishing Company. Em Nova York escreveu Mr. Slang e o Brasil (1927), As Aventuras de Hans Staden (1927), Aventuras do Príncipe (1928), O Gato Félix (1928), A Cara de Coruja (1928), O Circo de Escavalinho (1929) e A Pena de Papagaio (1930). As obras infantis que datam dessa época foram publicadas no Brasil e reunidas num único volume, intitulado Reinações de Narizinho (1931). Foi para Detroit no ano seguinte e, em visita à Ford e a General Motors, organizou uma empresa brasileira para produzir aço pelo processo Smith. Com isso, jogou na Bolsa de Valores de Nova York e perdeu tudo o que tinha com a crise de 1929. Para cobrir suas perdas com a quebra da Bolsa, Lobato vendeu suas acções da Companhia Editora Nacional em 1930. Voltou para São Paulo em 1931 e passou a defender que o "tripé" para o progresso brasileiro seria o ferro, o petróleo e as estradas para escoar os produtos.

O petróleo
Após implantar a Companhia Petróleos do Brasil, e graças à grande facilidade com que foram subscritas suas acções, Monteiro Lobato fundou várias empresas para fazer perfuração de petróleo, como a Companhia Petróleo Nacional, a Companhia Petrolífera Brasileira e a Companhia de Petróleo Cruzeiro do Sul, e a maior de todas (fundada em Julho de 1938) a Companhia Matogrossense de Petróleo, que visava perfurar próximo da fronteira com a Bolívia, país vizinho que já havia encontrado seu petróleo. Com isso Lobato prejudicou os interesses de gente muito importante na política brasileira, e de grandes empresas estrangeiras. Começava a luta que o deixou pobre, doente e desgostoso. Havia interesse oficial em se dizer que no Brasil não havia petróleo. Tendo-os como adversários, passou a enfrentá-los publicamente. Por alguns anos, seu tempo foi dedicado integralmente à campanha do petróleo, e a sua sobrevivência garantiu-se pela publicação de histórias infantis e da tradução magistral de livros estrangeiros, como O Livro da Selva, de Rudyard Kipling (1933, O Doutor Negro, de Arthur Conan Doyle (1934), Caninos Brancos (1933) e A Filha da Neve (1934), ambos de Jack London, entre outros. Teimava em dizer que era preciso explorar o petróleo nacional para dar ao povo um padrão de vida à altura de suas necessidades. Tentou, sem êxito, organizar uma companhia petrolífera mediante subscrições populares. Muitas dificuldades apareceram e, mesmo assim, sua produção literária manteve-se e chegou ao ápice. Em América (1932) publicou as suas primeiras impressões sobre a luta na qual se engajara. Em seguida vieram História do Mundo para Crianças (1933), na antevéspera e Emília no País da Gramática (1934), na qual defendia uma gramática normativa revisada. Meses depois, seu livro História do Mundo Para Crianças sofreu crítica, censura e perseguição da Igreja Católica.
Aceitou o convite para ingressar na Academia Paulista de Letras e, com isso, apresentou um dossiê de sua campanha em prol do petróleo, O Escândalo do Petróleo (1936), no qual acusava o governo de "não perfurar e não deixar que se perfure". O livro esgotou várias edições em menos de um mês. Aturdido, o governo de Getúlio Vargas proibiu e mandou recolher todas as edições. Em seguida, morreu Heitor de Moraes, seu correspondente e grande amigo. Com isso, criou a União Jornalística Brasileira, uma empresa destinada a redigir e distribuir notícias pelos jornais. Em Fevereiro de 1939 morreu Guilherme, seu terceiro filho. Abalado, Monteiro Lobato enviou uma carta ao ministro de Agricultura, que precipitara a abertura de um inquérito sobre o petróleo. Recebeu convite de Getúlio Vargas para dirigir um ministério de Propaganda, mas Lobato recusou. Numa outra carta ao presidente, fez severas críticas à política brasileira de minérios. O teor da carta foi tido como subversivo e desrespeitoso e isso fez com que fosse detido pelo Estado Novo, acusado de tentar desmoralizar o Conselho Nacional do Petróleo. Foi condenado a seis meses de prisão, e permaneceu encarcerado de Março a Junho de 1941. Uma campanha promovida por intelectuais e amigos conseguiu fazer com que Getúlio Vargas concedesse o indulto que o libertaria, reduzindo a pena de seis para três meses na prisão. Apesar disso, Lobato continuou sendo perseguido e o governo fazia de tudo para abafar suas ideias. Foi então que passou a denunciar as torturas e maus tratos praticados pela polícia do Estado Novo.

O fim
Mesmo em liberdade, Monteiro Lobato não teve mais tranquilidade, e seu filho mais velho, Edgar, morreu em Fevereiro de 1942, exactamente três anos depois do falecimento de Guilherme.
Em 1943 foi fundada a Editora Brasiliense por Caio Prado Júnior, que negociou com Lobato a publicação de suas obras completas. Logo em seguida, por ironia do destino, recusou a indicação para a Academia Brasileira de Letras. Entretanto integrou a delegação paulista do I Congresso Brasileiro de Escritores reunidos em São Paulo, que divulgou, no encerramento, uma declaração de princípios exigindo legalidade democrática como garantia da completa liberdade de expressão do pensamento e redemocratização plena do país. Suas companhias foram liquidadas e a censura da ditadura faz com que Lobato se aproximasse dos comunistas, chegando a receber convite do PCdoB para integrar a bancada de candidatos. Recusou, mas enviou uma nota de saudação que foi lida por Luís Carlos Prestes num grande comício realizado em 1945, no estádio do Pacaembu. Meses depois foi publicado Nasino, edição italiana de Narizinho, ilustrada por Vincenzo Nicoletti. Em maio A Menina do Narizinho Arrebitado foi transformada em radionovela para crianças pela Rádio Globo no Rio de Janeiro. Tornou-se diretor do Instituto Cultural Brasil-URSS, mas foi obrigado a se afastar do cargo em Setembro de 1945, quando foi levado para ser operado às pressas de um quisto no pulmão. A entrevista que concedeu ao Diário de São Paulo causou grande repercussão e, em 1946, muda-se para Buenos Aires, na Argentina, "atraído pelos belos e gordos bifes, pelo magnífico pão branco e fugindo da escassez que assolava o Brasil", conforme declarou à imprensa. Antes de partir, tornou-se sócio da Editora Brasiliense a convite de Caio Prado Júnior que, na sua editora, preparava as Obras Completas já traduzidas para o espanhol e editadas na Argentina. Em Outubro fundou a Editorial Acteon, com Manuel Barreiro, Miguel Pilato e Ramón Prieto. Voltou em 1947 por não se ambientar ao clima local e, em entrevista aos repórteres que o aguardavam no aeroporto, classificou o governo de Eurico Gaspar Dutra de "Estado Novíssimo, no qual a constituição seria pendurada (suspensa) num ganchinho no quarto dos badulaques". Dessa indignação surgiu o seu último livro Zé Brasil, publicado pela Editorial Vitória, em que Lobato mais uma vez reelaborava o seu personagem Jeca Tatu, transformando-o em trabalhador sem-terra e esmagado pelo latifúndio. Diante da proibição das actividades do Partido Comunista em todo o país, determinada pelo ministro da Justiça, escreveu A Parábola do Rei Vesgo para um comício de protesto, lido e aclamado pela multidão reunida no Vale do Anhangabaú, na noite de 18 de Junho. O texto reflectia o desencanto de Lobato com a democracia restritiva do general Dutra. Em Dezembro foi a Salvador assistir a opereta Narizinho Arrebitado. Lobato escreveria novo libreto para o espectáculo, considerado a sua última criação infantil. Publicou O Problema Económico de Cuba, também a sua última tradução. Em abril de 1948 sofreu um primeiro espasmo vascular que afectou a sua motricidade. Mesmo assim, afiliou-se à revista Fundamentos e publicou os folhetos De Quem É o Petróleo na Bahia e Georgismo e Comunismo. Dois dias após conceder a Murilo Antunes Alves, da Rádio Record, a sua última entrevista, Monteiro Lobato sofreu um segundo espasmo cerebral e faleceu às 4 horas da madrugada, no dia 4 de Julho de 1948, aos 66 anos de idade. Sob forte comoção nacional, seu corpo foi velado na Biblioteca Municipal de São Paulo e o sepultamento realizado no Cemitério da Consolação. Sua vida e sua obra ainda hoje servem de inspiração e exemplo para milhares de crianças, jovens e adultos do Brasil.

Disputa
Em 1996, os herdeiros de Monteiro Lobato tomaram a iniciativa de sugerir à Editora Brasiliense, até então detentora única das obras (conforme acordo assinado entre Lobato e Caio Prado Júnior em 1945) a reformulação dos livros e da colecção infantil, a fim de que apresentassem um aspecto moderno com relação a ilustrações coloridas e nova paginação. Essas tentativas continuaram em 1997 e fracassaram, simplesmente porque a editora não efectuou o investimento necessário, continuando a publicar os livros com ilustrações em branco e preto como fazia há décadas e continuou a fazer. Com isso, desde 1998, a obra de Monteiro Lobato virou centro de uma polémica entre a Brasiliense e os herdeiros, que a acusam de negligenciar a obra. Há o desejo de uma divulgação maior e edições melhores. Entre os editores há o desejo de reciclar o texto dos livros. São várias as ações movidas pelos herdeiros contra a Brasiliense, como contrato de cessão a terceiros (no caso à Editora Saraiva) e a publicação de um livro falsamente atribuído a Monteiro Lobato, que a editora intitulou Contos Escolhidos, sem autorização da família. Por outro lado, a Brasiliense alega ter um contrato ad infinitum assinado por Monteiro Lobato quando vivo. Em Setembro de 2007, por meio de acordo com os herdeiros, o STJ estabeleceu a rescisão contratual definitiva e concedeu à Editora Globo os direitos exclusivos sobre a obra de Monteiro Lobato, até 2018, ano em que o legado do autor deverá entrar em domínio público, pois se passarão 70 anos de sua morte.

Citações de Monteiro Lobato:
"Erro pensar que é a ciência que mata uma religião. Só pode com ela outra religião."
"Eu me acho capaz de escrever para os Estados Unidos por causa do meu pendor para escrever para crianças. Acho o americano sadiamente infantil."
"Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira — mas já tantos sonhos se realizaram que não temos o direito de duvidar de nenhum."
"Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma — “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo."
(Fonte: Conto Negrinha)
"Quem morre pelo seu país vive eternamente."
"No Brasil subtrai-se; somar, ninguém soma."
"O livro é uma mercadoria como outra qualquer; não há diferença entre o livro e um artigo de alimentação. (...) Se o livro não vende é porque ele não presta".
Em entrevista à Rádio Record, em Julho de 1948, reproduzida no jornal O Estado de São Paulo em Julho de 1978.
"Tudo vem dos sonhos. Primeiro sonhamos, depois fazemos."

Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande – Portugal

O escritor, tambem, marca a sua presença na História do país dentre outras ações de caráter político – como grande nacionalista que era –, como o precurssor do movimento de defesa do petróleo nacional para os brasileiros, o que se confirmou depois com a campanha “O petróleo é nosso” e com a criação da Petrobras.

Embora não apareçam tanto na mídia, os seus livros e personagens: Emilia, Narizinha, Dona Benta, Vsicode Sabugosa e outros, povoaram a infância e o imaginário das crianças no país em função da leitura de seus livros, mas, principalmente, nas várias séries feitas para a televisão.

Dos cerca de 26 livros que escreveu, se destacam O Sítio do Picapau Amarelo, Reinações de Narizinho, Emília no País da Gramática, A Chave do Reino, O Saci, alem dos romances Urupês, o Choque das Raças, Cidades Mortas, o Escândalo do Petroleo e muitos outros.

No último dia 18/04/10 foi comemorado o seu aniversário, que inspirou a criação do Dia Nacional da Litertura Infantil, uma homenagem merecida. Se não leu, ainda, o Monteiro Lobato, o que está esperando?

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